Salgueiro: uma academia diferente

 
 
Em um morro que demorou para ganhar seu nome definitivo, nasceu uma das grandes instituições do carnaval carioca, pioneira e revolucionária em muitos aspectos: o Acadêmicos do Salgueiro, com nove títulos.

O morro do Salgueiro sempre foi respeitado por seus sambistas e blocos carnavalescos. Quando surgiram as escolas de samba, três se formaram ali: Unidos do Salgueiro, Azul e Branco e Depois eu Digo, nenhuma delas forte o suficiente para fazer frente a Portela, Mangueira e Império Serrano. Após o carnaval de 1953, as baterias das três escolas desceram o morro e fizeram uma grande festa na Praça Saens Peña. Foi o estopim para o nascimento do Acadêmicos do Salgueiro, fusão da Depois Eu Digo e da Azul e Branco. A Unidos “enrolou a bandeira” algum tempo depois e seus componentes se incorporaram à vermelho e branca.

O Salgueiro começou quente. Logo em seu primeiro desfile, em 1954, ficou em terceiro e chegou à frente da Portela. Cinco anos depois, seu desfile sobre o pintor Debret chamou a atenção de um cenógrafo da escola de Belas Artes, Fernando Pamplona. No ano seguinte, ele foi o carnavalesco da escola e com um enredo sobre o Quilombo dos Palmares, conseguiu o primeiro título salgueirense.
 
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Foto: Marcelo Regua | Agência O Dia

 
Esse casamento não apenas deu vitórias à vermelhouu e branca. A partir dali, seria responsável por uma revolução estética nos desfiles. Pamplona levou para o carnaval gente como Arlindo Rodrigues, Joãozinho Trinta e Rosa Magalhães, o que lhe rendeu o título de pai dos carnavalescos. Nos anos 60, o lema “nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente” se justificou com a escolha de enredos sobre a história dos negros, que pararam de se vestir como nobres europeus e se vestiram como escravos ou reis africanos. Além de Zumbi, fez muito sucesso a história da escrava Xica da Silva, tema do carnaval campeão de 1963.

O Salgueiro também deu o que falar quando começou a apostar em sambas-enredos mais curtos e com refrões fortes e que viraram febre no país inteiro. Como em Festa Para o Rei Negro, até hoje conhecido como “Pega no Ganzê”, que era o início do refrão. Nos anos 70, Pamplona se afastou da escola e deu espaço para João 30 brilhar, o que lhe valeu o bicampeonato em 1974 e 1975. Com a contratação de seu “astro” pela Beija-Flor, passou um bom tempo sem desfiles marcantes – e sem títulos. Até que em 1993, provocou um terremoto de alegria no Sambódromo com o enredo Peguei Um Ita no Norte, viagem pelo Brasil que terminava no refrão “Explode coração, na maior felicidade, é lindo o Meu Salgueiro, contagiando e invadindo essa cidade”. Após o reencontro com a vitória, a Academia voltou a ser forte e quase sempre está no desfile das Campeãs. Desde o cinquentenário, em 2003, tem seus enredos assinados por Renato Lage, um dos profissionais de maior prestígio no carnaval.

A escola continua inovando. Foi a primeira a criar um programa de Sócio-Torcedor, na esteira do que fazem os clubes de futebol. Em 2017, seu enredo será “A Divina Comédia do Carnaval”, já considerado um dos mais interessantes. É melhor já garantir seu ingresso para não perder mais esse show do Salgueiro e sua bateria apelidada de Furiosa. Vem para o Rio!

27 de jul de 2016

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