Viradouro faz ode contra a intolerância e se destaca Carnaval carioca e suas surpresas Pode ter o famoso que quiser, a alegoria mais estapafúrdia ou a comissão de frente mais trucosa da avenida. Se você tiver um samba bom, todo o resto vira detalhe. Foi o que aconteceu na sexta de carnaval, primeira noite do desfile da Série A, quando a Viradouro entrou na avenida. Com um enredo fantasioso sobre um africano que teria visitado as religiões oriundas do Oriente Médio a tempo de conhecer Jesus em pessoa, a escola de Niterói flutuou na Sapucaí. Coisa rara de se ver, os componentes cantavam com gosto não apenas o refrão, mas a segunda metade da composição, que pedia a todos os brasileiros que não se deixassem contaminar pelo ódio e se enchessem de tolerância. Momentos de emoção como esse, não acontecem toda hora. E isso credencia a Viradouro a voltar para o Grupo Especial no ano que vem. Tudo dependeria do que fizesse no sábado o Império Serrano, com sua pra lá de sentimental homenagem a Silas de Oliveira, o homem que moldou o samba-enredo, com obras antológicas nos anos 60. A Viradouro tinha samba, mas também passou muito bem nos demais quesitos. As fantasias mais ricas e bem acabadas da noite, evolução segura, alegorias bem realizadas e uma bateria que se apresentou a altura do samba que sustentava. Também fizeram bonito a Porto da Pedra, contando a história do palhaço Carequinha, e a Império da Tijuca, com sua homenagem ao ator e diretor José Wilker. Destaques ainda para a bateria da Santa Cruz (que acabou perdendo pontos em cronometragem), a farra infantil da Renascer de Jacarepaguá e ao refrão do samba da Alegria da Zona Sul no qual a bateria entrava no ritmo de um ponto para Ogum, tema da escola.