Por que é tão difícil achar cenas de desfiles dos carnavais antigos?

Você sabe o que é um ‘travelog’? Trata-se de um gênero de documentários, geralmente de curta metragem, mostrando a cultura ou as atrações de um lugar. Era muito comum na primeira metade do século passado e havia produtoras e profissionais que se dedicavam a este tipo de conteúdo como o americano André De la Varre, diretor de “Carnaval in Rio”.

 

O documentário foi lançado em 1954, segundo o IMDb, em parceria com a Warner Bros. e capturou cenas preciosas de uma das épocas mais bonitas da Cidade Maravilhosa, que ainda era o Distrito da Guanabara, capital do Brasil, com direito a aparição do presidente Getúlio Vargas, que cometeria suicídio um ano depois.

 

As cenas de La Varre mostram as danças nas ruas, os blocos de sujo, a dança dos caboclinhos, os bailes de carnaval dos Artistas e da Cidade e também raríssimas cenas em vídeo do desfile de Grandes Sociedades, provavelmente de 1953, na época ainda o ponto alto do carnaval carioca.

 

Nas cenas do documentário é difícil identificar alguma que pareça de escolas de samba. Na época, elas desfilavam na Avenida Presidente Vargas e, embora o concurso fosse oficialmente organizado pela Prefeitura do Rio desde 1935, não tinham o mesmo prestígio de hoje na mídia. Embora já reunissem multidões. Justiça seja feita, a TV só seria inaugurada no país em 1955.

 

Esta é provavelmente a principal razão pela qual é tão difícil encontrar cenas em filme e mesmo fotografias dos desfiles de escolas de samba até os anos 1960, quando a TV Continental passou a transmitir flashes do desfile. Em um determinado momento, o narrador do documentário menciona os três dias de carnaval. Naquela época os festejos oficiais iam de domingo à terça. O primeiro dia ficava com as escolas de samba. Na segunda, se apresentavam os ranchos e na terca-feira gorda, as grandes sociedades.

 

As escolas de samba são uma espécie de síntese dos ranchos, de quem tomaram emprestado a figura da porta-estandarte e seu protetor e a batida mais apressada que a das grandes sociedades. Do apuro visual destas últimas as escolas se aproximariam de forma mais consistente só com a chegada dos artistas da Escola Nacional de Belas Artes, nomes como Fernando Pamplona e Joaozinho Trinta. Em 1961, o desfile passa a ser em arquibancadas montáveis e a cobrar ingresso. A TV colorida só chegaria em 1973.

 

03 de abr de 2017

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